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ATO CRIATIVO - O abacate nas relações humanas




O ABACATE NAS RELAÇÕES HUMANAS

Felipe Hector de Oliveira*

O abacate é uma fruta tropical comum em vários países como o nosso. Há muitas pesquisas que relatam sobre o mal que ele pode provocar no organismo e outras que dizem sobre os seus benefícios, desmentindo sobre o mal que ele pode vir a provocar. Porém, o nosso foco não será este. Compararemos esta fruta e a sua árvore com a intersubjetividade em várias perspectivas diferentes.

Geralmente, o abacateiro possui uma altura considerável, podendo chegar a dez, a vinte, a trinta metros ou até mais do que isto. Nas relações, muitos se elevam a alturas tão consideráveis que deixam de perceber a importância da grama ao seu redor. Pensam que a grama está ali por simples acidente, não são capazes de perceber que ela ajuda a manter a umidade do solo, proporcionando um melhor aproveitamento da água presente no mesmo. Estas pessoas que se consideram superiores não conseguem ver que necessitam, também, das outras pessoas das quais as consideram inferiores para que possam sobreviver. Algum empresário bem sucedido pode pensar assim, achando que se basta a si mesmo. Porém, isto não é verdade, pois o leite que ele toma é retirado por um senhor que levanta cedo todos os dias para ordenhar as suas vacas; o pão que ele come é feito pelo padeiro, que luta para manter a sua família; a casa em que ele mora é limpa pela empregada que cuida dos pais. Estes e muitos outros exemplos podem ser dados para se referir que o outro, por mais simples que seja e por mais que leve uma vida difícil, ele é importante na vida daqueles que têm um destaque dentro da sociedade. É preciso saber enxergar que a grama tem a sua utilidade para o abacateiro.

O abacateiro, para produzir os seus frutos, necessita florir para que haja a fecundação e a formação do caroço, da semente. A flor do abacateiro não possui um perfume como o de uma rosa, seu odor é bem discreto. E o que isto tem a ver com as relações? Tudo. Há pessoas que possuem um perfume encantador, no entanto, são incapazes de produzir frutos. Preocupam-se tanto com a aparência e se esquecem de trabalhar a parte intelectiva. Possuem uma beleza esplendida, mas são vazias de conteúdo. Outras, porém, não possuem perfume algum, mas são capazes de produzir frutos. As suas preocupações não estão ligadas com a aparência, mas, sim, com a sua formação e construção de uma crítica sobre os vários aspectos de sua vida e do mundo. Há outros que possuem um bom perfume e produzem frutos; há os que não têm odor e não produzem frutos; há outros que cheiram mal e não são capazes de produzir frutos; há outros, ainda, que cheiram mal, mas produzem frutos. Pensando dentro destas várias possibilidades, a melhor é a que agrada os dois aspectos: físico e intelectivo. Neste sentido o nosso abacateiro não seria o melhor, mas também não seria o pior. Isto nos mostra que a aparência do outro não me diz nada dele, posso me surpreender ao encontrar alguém bem aparentado, mas sem conteúdo e posso encontrar alguém mal vestido e que leva uma vida na simplicidade, mas de uma profundidade imensa de reflexão. Por isso, pela flor não se conhece a árvore e nem o fruto que dele pode ser gerado.

A fruta do abacateiro é bem modelada, se assemelha a uma pera ou a alguns tipos de abóboras. Ao ser partido é possível observar que há um caroço (a semente). Se a fruta não estiver bem desenvolvida e for madurado à força, ficará aguado e não terá um bom sabor. Se o fruto estiver no ponto de ser colhido, a situação muda, mesmo sendo madurado à força, o seu sabor será agradável, pois a fruta já está formada. O mesmo ocorre nas relações. Ao se encontrar com o outro, posso vir a ter um encontro desagradável, por não se ter esperado o momento oportuno de direcionar a melhor palavra no momento oportuno. A princípio, pode até ser que pareça bom, mas, depois, se torna desagradável, causando remorsos. É de extrema importância analisar o que irá dizer antes de dizê-lo, é preciso verificar se o fruto está granado para que não seja desperdiçado.

O caroço do abacate, por mais duro que seja, pode parecer ser inútil, só que isto não é verdade. A principal função do caroço é de poder gerar um novo abacateiro, perpetuando a sua espécie. Mas, ele pode ser utilizado na culinária na forma de farinha. As nossas relações precisam passar por um processo de refinamento para que sejam bons e saudáveis. Em mim há muitas coisas que podem desagradar ao outro, e o outro também se apresenta de forma que me desagrada. É preciso trabalhar estes aspectos para que os encontros que se derem com ele não sejam duros e nem doloridos. É preciso fazer um pó de nós mesmos, triturando aquilo que não é bom sem que percamos a nossa essência. As árvores precisam passar, também, por um processo semelhante: o da poda para produzir seus frutos. Nós, igualmente, precisamos retirar de nós aquilo que está nos atrapalhando para que as relações possam ocorrer da melhor forma e produzir uma quantidade maior de frutos da que está produzindo atualmente. Se esta poda não ocorrer, pode ser que esta árvore nem chegue a dar mais seus os frutos.

Como já foi falado, o abacateiro pode ultrapassar dos trinta metros de altura. Isto significa que os frutos podem estar, também, a mais de trinta metros. Se a fruta for colhida com um bambu, ao cair, se a fruta estiver verde, irá rachar, e se estiver madura, irá estraçalhar no chão. É preciso criar um instrumento que impeça que a fruta venha cair no chão ou, se não, subir na árvore e colher a fruta. O mesmo ocorre com as relações. Mesmo uma relação madura pode vir a ter o seu fim devido a uma grande decepção provocada por nós. E a relação que mal começou pode ter o seu fim, porém, com danos menores, mas marcantes. É fundamental nas relações uma reflexão sobre as melhores escolhas a serem tomadas, o melhor caminho e o melhor método a ser utilizado para que as relações não venham a ser quebradas.

Portanto, o nosso abacateiro está formado. Somente quando formos capazes de valorizar a grama que retém a umidade ao nosso redor; quando soubermos dar um valor maior para os frutos produzidos e não para a sua flor; quando soubermos o melhor momento de colher o fruto; quando o caroço for devidamente triturado; e quando for estudado o melhor meio para se colher o fruto, poderemos ter uma relação com outro que seja consistente e duradouro, sem que corra o risco de perecer.


Felipe Hector de Oliveira*

 Seminarista da Diocese de Divinópolis
 PUC\MG - 1º período de Teologia

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