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ATO CRIATIVO - Memórias da Emília | Monteiro Lobato



Trecho extraído de Memórias de Emília

Emília resolve escrever suas Memórias. As dificuldades do começo.

Capítulo I

“Tanto Emília falava em “Minhas Memórias” que uma vez Dona Benta perguntou:
– Mas, afinal de contas, bobinha, que é que você entende por memórias?
– Memórias são a história da vida da gente, com tudo o que acontece desde o dia do nascimento até o dia da morte.
– Nesse caso – caçoou Dona Benta – uma pessoa só pode escrever memórias depois que morre…
– Espere – disse Emília. – O escrevedor de memórias vai escrevendo, até sentir que o dia da morte vem vindo. Então pára; deixa o finalzinho sem acabar. Morre sossegado.
E as suas memórias vão ser assim?
– Não, porque não pretendo morrer. Finjo que morro, só. As últimas palavras tem de ser estas: “E então morri…”com reticências. Mas é peta. Escrevo isso, pisco o olho e sumo atrás do armário para que Narizinho fique mesmo pensando que morri. Será a única mentira das minhas Memórias. Tudo mais verdade pura, da dura – ali na batata, como diz Pedrinho.
Dona Benta sorriu.
– Verdade pura! Nada mais difícil do que a verdade, Emília.
– Bem sei – disse a boneca. – Bem sei que tudo na vida não passa de mentiras, e sei também que é nas memórias que os homens mentem mais. Quem escreve memórias arruma as coisas de jeito que o leitor fique fazendo alta idéia do escrevedor. Mas para isso ele não pode dizer a verdade, porque senão o leitor fica vendo que era um homem igual aos outros. Logo, tem de mentir com muita manha, para dar idéia de que está falando a verdade pura.
Dona Benta espantou-se de que uma simples bonequinha de pano andasse com idéias tão filosóficas.”
Acho graça nisso de você falar em verdade e mentira como se realmente soubesse o que é uma coisa e outra.  Até....

Pois eu sei! – gritou Emília. – Verdade é uma espécie de mentira bem pregada, das que ninguém desconfia. Só isso. 
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A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pela última vez e morre. 
- E depois que morre? Perguntou Visconde. 
- Depois que morre vira hipótese. É ou não é? 
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INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA PUC/MINAS
DISCIPLINA PEPA II -  PROFESSORA: CARMEM SCHETTINO


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